Primeiro post — Árvore sem o rio

Primeira postagem do blog, uma enorme responsabilidade sobre meus ombros. Espero que gostem. Ou que pelo menos se divertam.
O texto a seguir surgiu em minha mente quando tive a ideia de criar uma espécie de metáfora, então talvez alguém não entenda seu real significado. Todavia, peço que comentem sobre o que acharam, críticas são sempre bem vindas e seria interessante saber qual os estilos que mais agradam.
Vamos à história.

Árvore sem o rio

               Certa vez, às margens de um discreto lago, nasceu uma árvore. Esta nunca fora exatamente saudável, visto que sua única fonte de nutrientes era aquela porção d'água a qual estava confinada; que por sua vez, formara-se com o desaparecimento de um antigo rio.

               A planta cresceu suficientemente forte para permanecer viva. Porém, a cada dia que passava, a árvore via o lago diminuir seu volume, e sabia que, caso o rio não voltasse a fluir, logo morreria.

               Cheia de esperança, mas triste, viveu a árvore. Até que o dia finalmente chegou — o lago estava seco. Desde então a árvore tornou-se seca e sem vida; nunca fora realmente bela, mas na situação em que se encontrava — sem folhas, com galhos quebradiços, e implorando por água — transformou-se numa visão deplorável.

               Mesmo diante daquele fato desesperador, a árvore ainda esperava pelo rio. Cada vez mais fraca, sem suas folhas e água, o sol já não fazia sentido; era desnecessário. E à noite, presa ao céu estrelado, a lua atormentava-a, pois lhe trazia lembranças que desejava esquecer.

               E finalmente a esperança se foi; a árvore entregou-se a morte — já não valia a pena lutar por tão miserável existência.

               Mas ainda existia, no âmago da árvore, mesmo que esta não admitisse, uma ínfima porção de expectativa — expectativa de que algum dia o rio voltasse a correr. Embora sua casca fosse agora dura e seca, ainda sustentava um resquício de vida.

               O tempo passou, e assim terminou a jornada daquela árvore. Ainda que negasse, ela morreu buscando, sedenta, pelo rio; mas este nunca alcançou suas raízes. O rio há muito mudara seu curso, evitando o local do antigo lago; jamais encontrando a árvore; condenando-a a uma morte solitária.