domingo, 18 de dezembro de 2011

Três vidas…


Muitos apontariam para mim e me chamariam de louco caso algum dia eu lhes contasse os fatos que aqui descrevo, mas peço que, se realmente estiver disposto a continuar lendo este meu relato, não me veja como o monstro que todos, inclusive eu mesmo, insistem, em dizer que sou; preciso apenas de alguém que me entenda e saiba que o que fiz não foi totalmente errado.
Para que possam me entender, peço que se recordem do sentimento que nos toma quando estamos apaixonados. Se alguém que estiver lendo nunca sentiu isso, então é melhor que interrompa a leitura imediatamente.
Começarei então com uma descrição de um passado que agora me parece distante.

Seu nome era Alice. Fomos criados juntos desde a infância. Vivíamos no campo, logo não conhecíamos muitas pessoas, uma vez que em um raio de 20 km somente habitavam nossas famílias.
Penso que concordariam com a afirmação de que quando somos jovens nos enamoramos muito facilmente, e por qualquer pessoa à nossa volta de nos dê atenção suficiente para fazer nascer alguma esperança. Como eu disse, nossas famílias estavam isoladas da sociedade naquele recanto bucólico — fato causado pelo horror da guerra que estava devastando o mundo quando do meu nascimento; uma vez que Alice também nasceria em breve e, como nossos familiares eram próximos mesmo antes da Guerra, ambas as famílias fugiram para aquele local. Estou insistindo neste ponto somente para que percebam que seria impossível nós não nos apaixonarmos um pelo outro — sim, um pelo outro, pois tenho certeza de que ela também me amava.
Estávamos vivendo nossa adolescência, eu perdidamente apaixonado por ela, até que aquele dia chegou; até que ele chegou. O nome dele era Álvaro. Ele estava viajando com seu pai, que era mercador. Maldito seja aquele velho que um dia pensou em tomar uma rota diferente que passava pelo nosso lar.
A “visita” deles não durou muito, pararam somente para descansar; pediram esse favor a minha mãe, e ela, coitada, aceitou, sem saber que arruinaria meu futuro naquele dia. O pai de Álvaro ficou descansando dentro de uma das carroças que traziam; aquele velho deveria ter morrido naquele momento, dessa forma aquilo não teria acontecido.
O filho de mercador deveria ter um ano a mais que eu. Este, cansado de esperar seu pai, resolveu dar um passeio pela região. Foi quando avistou Alice, e a mim também, pois eu estava ao lado dela. O infeliz ficou de longe fitando a minha Alice com aquele olhar desejoso do qual eu jamais esquecerei. Ela também o observava discretamente, mas mesmo assim eu percebi; os olhos dela brilhavam de uma forma que eu desconhecia até então. Terrível é a sensação de descobrir que se está perdendo a pessoa que ama.
Foram embora, Álvaro e seu pai, três horas antes do final da tarde; mas Alice nunca mais fora a mesma. O mercador, do qual não me recordo o nome, teve uma brilhante ideia, alterar sua rota para o caminho que tomara aquele dia; o mundo conspirava contra mim.
Agora, uma vez por mês, Álvaro e Alice se encontravam; tornaram-se amigos, e eu, numa tentativa desesperada de impedir que ele a tomasse de mim, fingia ser seu amigo também, seguindo-os onde quer que fossem.
Até que o inevitável aconteceu; Álvaro pediu ao pai de Alice para namorá-la e este aceitou, pois considerava o jovem uma boa pessoa. Em pouco tempo o namoro transformou-se em noivado; “Eles foram feitos um para o outro” diziam as pessoas — será que ninguém via que eu estava sofrendo?!
Pensei em me matar; até mesmo coloquei a corda em torno do pescoço, mas era fraco demais para me suicidar.
Não prolongarei muito esta descrição; eles se casaram e mudaram-se para a cidade, deixando-me ali, sozinho, para viver uma vida de desgosto. Estudei bastante e rumei para a cidade, onde passei a trabalhar na parte da manhã e pude desfrutar de uma vida confortável. Conheci diversas outras mulheres, mas nunca esqueci minha amada; minha doce Alice.
A tristeza que me tomava era tão intensa que resolvi agir de alguma forma. Como minha família ainda era próxima à de Alice, não foi difícil descobrir seu novo endereço. “Como estou morando na cidade também, estava pensando em fazer uma visita a sua filha”, falei a dona Martha, mãe de Alice, durante uma de minhas visitas aos meus pais. Visitei-os, Álvaro e sua esposa, diversas vezes, com o pretexto de que eram meus únicos amigos de longa data na capital. Fiquei sabendo dos hábitos deles, em especial do meu alvo primário, o filho de mercador que agora administrava um mercado no centro da cidade.
Álvaro saía de casa junto ao nascer do sol e retornava já tarde, por volta das oito da noite. Porém, não obstante ao seu hábito de sempre seguir esta rotina, um dia ele não voltou para casa.
Alice, desesperada, correu a cidade buscando ajuda; buscando informações do paradeiro do seu marido. A campainha da minha residência soou por volta das dez, era ela pedindo-me para ajudá-la —, se soubesse a verdade nunca teria buscado minha ajuda, coitada; senti pena naquele momento e quase desisti do meu plano.
— Álvaro nem mesmo chegou ao emprego. — ela me contava o que lhe informaram quando foi ao mercado em que seu marido trabalhava. Nós seguíamos rumo à delegacia na esperança da encontrar alguma ajuda da polícia, a ideia fora minha, uma vez que tinha absoluta certeza de que nunca descobririam o que fiz. Enquanto caminhávamos, em minha mente as cenas daquele dia passavam, lembrando-me do que eu fizera.
Meu antigo rival saiu de casa as seis, como era de seu costume. Eu, devidamente disfarçado, o seguia a uma distância segura. Esperei até que passássemos por uma viela onde não se encontrava vivalma, e onde existia uma casa abandonada que serviu muito bem ao meu intento. Chegando próximo dele rapidamente, o fiz inalar uma substância que o fez desmaiar; depois o arrastei para dentro da residência que mencionei há pouco. Amarrei-o e amordacei-o, de modo que ninguém poderia descobrir o que se passava ali, no segundo andar daquela velha casa.
Esperei que acordasse, pois não se mata um homem enquanto este está adormecido; não é ético. Ele estava assustado, não entendia o que estava acontecendo, mas notava claramente o perigo. Tentou, em vão, se soltar, depois se desesperou. Eu segurava, diante dele, uma seringa contendo 5 ml de um forte veneno — é curioso como é possível comprar coisas assim numa farmácia, embora tudo tenha seu preço.
Inseri a agulha em seu braço direito. Nos olhos dele eu enxergava um misto de ódio e súplica. Com a toxina circulando seu corpo, em poucos minutos encontrou seu fim; foi uma cena grotesca, começou com leves convulsões que foram se agravando, depois começou a sair pelas suas narinas uma substância espumosa e por fim os músculos se contraíram e ele parou de se mover.
Todavia, um corpo é grande em demasia, e por isso chama alguma atenção, principalmente pelo odor de putrefação liberado no processo de decomposição; eu não poderia deixá-lo assim. Mas isso também já estava planejado. Com a ajuda de um cutelo e uma serra, esquartejei o corpo, deixando os restos dentro de uma banheira coberta, deixando para o dia seguinte a decisão do que fazer com o que restou do cadáver, pois já era quase fim da tarde e alguém poderia notar minha ausência e ligar-me ao desaparecimento de Álvaro.
A conversa com a polícia não resultou em nada além de promessas de que, tão logo o desaparecimento completasse 48 horas, eles começariam a agir. Então me ofereci para levar Alice em casa, tranquilizando-a e dizendo que certamente Álvaro voltaria antes mesmo do início das operações daqueles inúteis policiais.
Conversamos sobre diversos assuntos, mas eu sempre notava preocupação em seu tom de voz.
— Ele tem de estar vivo. Meu filho não pode nascer sem um pai. — esta frase pôs um final definitivo em minhas esperanças. Minha querida Alice carregava em seu ventre a semente daquele homem que desgraçou minha existência. Minha amada daria vida ao filho daquele maldito homem.
Alice não seria capaz de amar outro homem senão àquele que, embora ela não soubesse, encontrava-se morto agora. E apesar de amá-la, eu notei que deveria deixar que os dois vivessem juntos por toda a eternidade. Rumo à casa de Alice, passamos por aquela viela onde eu cometera meu primeiro assassinato; como sempre, não havia alguém para ver o que eu estava prestes a fazer.
Deixei que Alice seguisse dois metros a minha frente. Coloquei a mão em meu bolso e dele tirei um cadarço. Segurei-o fortemente com ambas as mãos. “Um serviço rápido e limpo”, pensei eu. Passei a corda pelo pescoço dela e com toda a minha força a impedi de respirar. Embora tentasse, ela não conseguia gritar por ajuda. Debatia-se tentando livrar-se, mas era-lhe impossível fugir. Lágrimas saíam dos meus olhos, correndo pela minha face, mas eu não poderia desistir agora.
Quando Alice morreu, eu arrastei seu corpo para o interior da residência onde o cadáver de Álvaro se encontrava. Mesmo munindo-me de toda a frieza que existia em meu ser, não fui capaz de cortar o corpo dela, então atirei seu cadáver sobre o que restou do seu marido.
No dia seguinte comprei uma grande quantidade de ácido, que despejei na banheira para dar fim aos corpos.
Depois disso fugi para uma cidade do interior de um distrito vizinho. A polícia, depois de muito procurar, aceitou a hipótese de um possível assassinato. Na busca por pistas, visitaram minha residência, pois fui o último a ser visto em companhia de Alice. Minha antiga vizinha disse aos policiais que no dia do desaparecimento de Álvaro eu me ausentei de casa durante todo o dia, e que ela imaginou ser esta atitude suspeita, pois não era algo habitual, também disse que ao ver-me chegar em casa notou em minhas vestes uma mancha que certamente parecia com sangue, por fim, contou que me viu entrar em casa desesperado por volta das 11:50 e sair carregando uma mala quinze minutos depois. Não foi difícil para a polícia descobrir que, na manhã seguinte, eu comprei uma passagem de trem para a cidade em que me encontro. Logo, sou considerado agora, e com razão, o principal suspeito.
Todas estas informações encontram-se num jornal que está sobre a mesa deste apartamento que aluguei a uma semana. Ao final da reportagem há um trecho de uma entrevista realizada com meus familiares onde meu pai afirma ser o seu maior desejo que eu seja encontrado e posto sobre o cadafalso; nem mesmo os do meu sangue me apoiam.
Após pedir a cooperação da população na tarefa de encontrar-me, certamente os homens da lei bateram em minha porta cedo ou tarde.
Olho mais uma vez para aquela xícara sobre mesa, próxima ao jornal; há vinte minutos sorvi o seu conteúdo. Quando os policiais chegarem aqui encontraram nada além de um cadáver.
Agora finalmente poderei ter alívio do desespero que me acomete nestes últimos dias; finalmente poderei expiar pelos meus pecados; finalmente me reencontrarei com minha amada.

5 comentários:

  1. Meu caro Erick, lendo agora o seu texto (breve plágio), cheguei novamente a uma conclusão óbvia, seu texto foi ótimo! Todavia estou gravemente enfurecido neste momento, não quero me encontrar com sua personagem, na realidade, gostaria de me encontrar com o escritor deste conto e espancá-lo até a morte (outro breve plágio). Senti, primeiramente, muito ódio, não pelo fato do assassinato, mas pelo fato de que o assassino foi um banana em não se declarar para a garota que ele amava, ao menos tentasse, talvez até conseguiria alguma coisa, não obstante, o restante do texto me causou total repugnância, ira e vontade de te socar (isto não é um plágio), enfim, gostei muito do seu texto, talvez tenha sido seu último... hoje está um ótimo dia, não está?

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  2. Verdade, se ele tivesse se declarado para a garota, talvez ele tivesse alguma chance e isso não teria acontecido. Começo a sentir ódio dessas pessoas, penso que pessoas assim não merecem realmente viver. Bem, essa é a minha opinião.

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  3. Erick,como disse seu amigo,seus textos são tão REPUGNÂNTES,que quase passei mal.
    Não que são ruins, só quausam enjos e nausés.

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  4. IUAHSIUHSUAIHSUIAHSAUIHSUIAH... "só causam enjos e nausés". Eu ri disso xD

    Bem, eu adoro os textos que vc escreve, já te falei isso e não tem como esconder u.u
    continue escrevendo *--*

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  5. Texto bom e interessante, eu achei um pouco clichê.
    Amor estou chegando a uma conclusão que tdas as histórias desse blog sempre tem no minimo uma morte.
    Continue escrevendo assim.
    Vc precisa de um psiquiatra.
    (Mari aki ^.^')

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